Ontem o jornal Correio da Manhã publicava como manchete “80 crianças devolvidas a instituições” e o telejornal da RTP1, pelas 20:18, decidiu seguir o exemplo de mau jornalismo deste periódico e apresentou uma reportagem do mesmo tipo, supérflua, sem qualquer tipo de investigação. Os jornalistas limitam-se a apresentar estatísticas, sem qualquer tipo de contextualização e a entrevistar pessoas que, aparentemente, nada sabem sobre o assunto. Na verdade estão mais interessados no sensacionalismo de uma notícia como aquela de uma eventual mãe que abandona os seus 3 filhos, adoptados, no Brasil. O terrorismo das audiências e do tempo obriga a que não seja verificada a veracidade das informações. Quando é que os medias se interessam realmente pela adopção e pela forma como os serviços sociais respondem aos candidatos? Indigna-me que 80 candidatos a pais não tenham coragem para levar até ao fim os seus processos de adopção mas indigna-me muito mais que os futuros candidatos se dirigiam aos serviços sociais com um catálogo do filho que pretendem adoptar, como se dirigissem a uma loja.
Lamento que um canal público se limite a entrevistar uma única pessoa, um especialista da Missão Criança que afirma que os candidatos apenas são entrevistados 2 ou 3 vezes. Por experiência própria posso afirmar que o processo não é feito desta forma. Durante 6 meses, fomos entrevistados várias vezes (tanto na Santa Casa como em nossa casa), fizemos diversos testes. É assim que funcionam as candidaturas. Quem são estes pretensos especialistas que a RTP cita que criticam a forma como os candidatos são escolhidos? Com certeza que os métodos de escolha dos funcionários dos serviços sociais não são infalíveis. Falham. Também é verdade que os médicos nem sempre acertam os seus diagnósticos. Também é uma certeza que nem sempre os psicólogos ou psiquiatras conseguem curar um doente.
Senhores jornalistas: façam uma investigação séria sobre a adopção. Entrevistem as pessoas que todos os dias se dedicam a arranjar pais às milhares de crianças institucionalizadas. Visitem os serviços de adopção da Santa Casa, as instituições que acolhem as crianças abandonadas. Entrevistem futuros pais e pessoas que tenham passado pelo processo. Vejam casos de sucesso e de insucesso. Não se limitem à frieza dos números nem à superficialidade de uma notícia que nada diz.